Monday, August 27, 2007

#33 - “BEIRADEIROS: CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DE UM FESTIVAL QUE SE TORNOU PROJETO E, DE UM PROJETO QUE AINDA SE LIMITA A UM FESTIVAL”.
Por: Isaac Ronaltti


“As pessoas que vencem neste mundo são as que procuram as circunstâncias de que precisam e, quando não as encontram, as criam”
(Bernard Shaw)


1. Discutir cena é algo delicado. Comum também é, que pessoas se sintam ofendidas, ou, no mínimo, contrariadas, quando alguém expõe seu ponto de vista, achando que, desta forma, possa colaborar para dissolução de alguns comportamentos que, normalmente, são naturais aos “pepinos do mar” - estes últimos possuem órgãos e estrutura física, muito embora, não pensam, não agem e não interferem. Não falo isso para todos, e consequentemente, apenas os que se encaixam e se aproximam das características dos “pepinos do mar” é que de alguma forma ficarão ofendidos.

Pois bem, este sujeito “turrão” - assim como o amigo Vinícius me classificara (risos) -; que vos escreve, andando uns dias atrás pelas ruas de Rio Branco, tentando se refugiar do calor e do sol escaldante de uma tarde, adentra o espaço do Café do Teatro Hélio Melo e encontra com H.Montenegro - um músico bem conhecido da noite portovelhense. H. me contava que tinha vindo de Porto Velho com o objetivo de expor sua arte no Acre, mas que, infelizmente, estava tendo certa dificuldade para conseguir espaço para tal; Nisso, começamos uma longa conversa sobre: identidade, música regional, teatro, filme, enfim, conversávamos sobre cultura. Falei para ele do Projeto Beiradeiros, ele disse que já tinha ouvido falar, e que, no Festival do ano passado tinha grande vontade de ter participado do evento, contudo, não surgiu a oportunidade.

Bem, depois dessa conversa com “o pernambucano mais rondoniense que já conheci” (créditos ao Nettu por esses trocadilhos estaduais), cheguei em casa, e com a cabeça fervilhando, comecei a fazer uma série de questionamentos que, infelizmente, não foram transcritos no mesmo dia, devido meu “Ap” ter sofrido um denso e terrível ataque de baratas.

Depois de eliminar um bom número de baratas, juntei o bojo de pensamentos surgidos a partir da conversa com H. aos diversos debates, comentários, desavenças e problemáticas surgidas no Vilhena Rock Zine, a partir da publicação de artigos, e etc...etc.

Dos diversos pensamentos, surgiram em minha mente palavras em negrito - isso se deve a importância do conceito de cada uma destas palavras-; longe de uma tentativa de análise epistemológica, palavras como: cultura, projeto, beiradeiros; escondem em seu cerne uma incrível gama de discursos e conceitos que se, não atentados, desmontam qualquer processo de interferência social - me refiro ao Projeto Beiradeiros. Mas, a que grau estamos realmente interferindo na sociedade, haja vista que, o Projeto Beiradeiros é descrito em seu estatuto como sendo um projeto cultural, e suas atividades devem ter como fim, como objetivo, a mudança de conceitos, comportamentos e realidades? Muitos me diriam que estou supra-valorizando o Projeto, que são considerações megalomaníacas, enfim, mas vou tentar construir uma explicação plausível para referendar minhas afirmativas no que tange ao Projeto Beiradeiros, que naturalmente, por si só, é muito mais que uma vertente da cena rock rondoniense, ao passo que, as dimensões e objetivos do projeto não se restringem apenas à promoção de um festival de Rock. Naturalmente, por momento, tudo que os participantes do Projeto Beiradeiros podem fazer é promover o Festival, logo, as ponderações que farei a seguir, servirão mais como reflexão para as atividades do Projeto Beiradeiros e planejamentos para o ano que vem.

Em 2005, aconteceu a 1º versão do, na época, “Festival dos Beradeiros”, realizado a partir da parceria do Metal/RO, Prefeitura Municipal de Porto Velho, SESC, encabeçado pela organização da Tribo do Rock, na época, ainda não existia a idéia de um Projeto, era apenas um Festival. O fato é que, a partir de Outubro de 2005 objetivou-se a construção do Projeto Beiradeiros deixando de ser apenas um festival, tornando-se: um projeto cultural, sem fins lucrativos - não significando que não possa ter movimentação financeira -; que tem entre seus principais objetivos a valorização das manifestações culturais locais; tendo seu corpo composto por: artistas plásticos, músicos, literatos, pesquisadores, etc...etc. Ainda, o Projeto tem como um de seus objetivos a realização de um festival anual. Pois bem, os diversos problemas enfrentados pelo Projeto Beiradeiros atualmente, são frutos de um Projeto que se resumiu a apenas um de seus objetivos: o festival. Isso está colaborando para a descaracterização do mesmo, e colaborando para o momento - “Socorram!!! O piloto sumiu”.

Precisamos pontuar algumas questões básicas para que, possamos repensar o Projeto Cultural Beiradeiros, para que o mesmo não venha perder toda riqueza que está contida em suas entranhas, se resumindo apenas a Projeto do Festival Beradeiros. Creio que já se tornou visível a contradição. Reafirmo que, estas considerações pouco servirão para o atual momento, mas serão de grande contribuição no dimensionamento do Projeto para o ano que vem.

O que está por trás destas três palavras: Projeto Cultural Beiradeiros?
Tentarei responder, a princípio, desfragmentando e esmiuçando estas palavras.

1.1 - DO PROJETO:

Inicialmente, precisamos ter em mente que, um Projeto não é uma fórmula, pois a fórmula não está sujeita as mudanças em sua estrutura, e se feito, o resultado da equação será errada. O Projeto, na verdade é, apenas um norteador, uma coluna cervical, móvel, aberta a adequações, reformulações, cortes, adendos, extinções, normatizações, ou seja, o Projeto permite certa mobilidade, contudo, necessita de sensibilidade por parte de seus dirigentes para que percebam em momento certo para que lado sopra o vento, e qual é o momento certo de virar a vela.Em síntese, poderíamos dizer que, projeto é: a base e o parâmetro norteador das ações executivas: o planejamento, o percursso, o tempo, a execução, a análise da execução, um novo planejamento.

No que tange ao Projeto Beiradeiros, sua estrutura funciona através de um Projeto político ideológico, que é a coluna cervical, o referencial, a identidade, a alma que é a origem das ações. Esse Projeto “alma”, ideológico, é o que dá o tom e direcionamento de um outro projeto - o executivo; o projeto executivo deve ser feito anualmente no começo de cada gestão. É nele que, se constroem análises mais aprofundadas de onde estamos, e para onde queremos ir, claro que tudo consoante ao Projeto “alma” que é sintetizado no nome Projeto Cultural Beradeiros.

Dentro do Projeto, existem as determinações: “de continuidade” que estão diretamente ligadas ao corpo político ideológico do Projeto, seguidas das determinações “temporais”, estas últimas, formuladas a partir das decisões do planejamento anual; todas tendo poderes acessórios para a execução dos objetivos de curto, médio e longo prazo.


1.2. - DA CULTURA - O INSTRUMENTO POLÍTICO

Já falamos das características de Projeto Cultural que o Beiradeiros tem, mas afinal, o que entendemos por cultura?

Conheço duas exemplificações do conceito de Cultura:

A primeira exemplificação conceitua cultura como “tudo que é produzido pelo homem”. A segunda exemplificação define cultura como “tudo aquilo que pode ser legado, que pode ser ensinado”. Gostaria de trabalhar com a segunda conceituação exposta de cultura, e nisso, faço gancho para perguntar: em que realmente estamos sendo um Projeto Cultural?

Betinho, certa vez falou que a Cultura muda o mundo. Concordo, em grau, gênero e número com ele.

No caso do Projeto Beiradeiros, a questão cultural é a alma do Projeto, é o instrumento político, que em nenhum momento pode se transformar em apenas um bom argumento para abrir portas de patrocínios.

No momento não vou tocar nos limites e problemas - farei isso em uma parte separada -, deixo apenas o questionamento: se cultura é legado e interferência direta na realidade de nossa sociedade, o que estamos legando? Em que estamos interferindo?


1.3. - DO BEIRADEIRO - O INSTRUMENTO IDEOLÓGICO

Afinal, o que é e quem é o Beiradeiro?

Até uns anos atrás, Beiradeiro era um xingamento local, se remetia a um deboche do homem pacato e humilde que mora na beira dos rios.

A banda Quilomboclada gostava de definir Beiradeiros como os ribeirinhos e os “afro-indígenas”. Mas depois de muitas reflexões que fiz, confesso que as mesmas ainda incompletas, percebi que, o conceito de Beiradeiros para nós é algo muito mais denso, incutido de uma gama de significados, e o mais incrível, um dos poucos pontos que nos é comum não só em Porto Velho, mas em todo Estado de Rondônia.

Nisso, construir um conceito que traduza em uma unidade a nossa diversidade, é passo fundamental para que, possamos definir e consolidar nossa identidade de portovelhenses, de rondonienses - como o Nettu mesmo falou: “cada cidade de Rondônia parece um universo paralelo”, haja visto que, como nos afirma Gramsci, um povo que não tem identidade, algo que os una, que os torne comum, é um povo sem memória, e um povo sem memória está mais suscetível a vir a ser dominado.

Foi analisando nossa história, os ciclos econômicos que viveram nossa terra que, percebi um ponto em comum que nos une: nós: rondonienses e rondonianos somos todos Beiradeiros. Todos nós estamos à beira, nos desenvolvemos a beira, somos “marginais”, nascemos à beira dos rios, da ferrovia, da BR-364, portanto somos Beiradeiros. Assim, também são nossas cidades, principalmente Porto Velho que nascera a beira do Madeira, assim como as diversas cidades que se desenvolveram a beira da BR-364. Desenvolvemos-nos a beira, assim como fomos colocados à beira ao decorrer dos diversos ciclos econômicos. Para melhor ilustrar, transcreverei um trecho, do capítulo 21, do livro que estou escrevendo sobre a Cena Rock em Porto Velho, só atentando que, embora o livro trate de um apenas da representação local de um estilo musical, a Cultura Beiradeira não se resume a um estilo, a um tipo de música, é muito mais que isso:

“Beiradeiro é todo aquele que está a margem. Diria simplesmente que, o conceito de beiradeiros inclui todos os excluídos,sejam eles excluídos pelos ciclos econômicos, pela classe social, por etnia, cor e credo.
O diferencial do beiradeiro é que ele não luta para incluir-se na lógica do dominante, ele volta-se para o que é seu, e passa a dar valor singular as suas peculiaridades, percebe finalmente, que ele - o Beiradeiro -; não precisa entrar nas correntes das águas dos outros, tendo que assumir a posição de remar contra ou a favor das marolas. Percebe, tão simplesmente que, pode conduzir o seu caminho, valorizando a margem, e decidindo para onde andar.Os Beiradeiros possuem os pés fincados na terra,e não entram nas águas simplesmente porque alguém diz que assim deve-se fazer,que assim caminha o progresso e o desenvolvimento.O Beiradeiro é, decididamente,e a afirmativa do alternativo”.


Em termos mais específicos, a expressão cultural beiradeira é marginal:

“...pois sempre esteve a margem,sempre fomos o excêntrico,na maioria das vezes pouco valorizada, até pelo público local,que devido uma tradição típica herdada da colonização,tem o costume de valorizar e entender que se deva dar valor e crédito somente aquilo que vem dos grandes centros”.


Este componente ideológico - a criação da idéia do Beiradeiros -, o Projeto não pode se desvincular ou esquecer, sob pena de tornar-se um Projeto vazio, ou pior, transformar-se em uma mera produtora de eventos.

Por isso que acho reducionista demais tratar o Beiradeiro de Rondônia apenas como o afro-indígena, ou apenas o ribeirinho, até porque se tratássemos apenas dos negros - e não me venham com a aquela baboseira de chamar os negros de descendentes de escravos, afinal, nunca existiu um país chamado “Escravolândia”-; num estado como Rondônia já teríamos um bom número de contradições, haja vista que, o negro encontrado em Porto Velho é em sua maioria de origem caribenha, trazido para trabalhar na construção da EFMM - naturalmente de raiz africana, capturado e usado como mão-de-obra escrava nas colônias caribenhas, em especial, as colônias inglesas: que ainda são responsáveis por um traço singular do negro portovelhense - o protestantismo, um bom exemplo do que estou falando são os Shockness e os Johnson’s; Muito diferente do negro encontrado no Guaporé, que é remanescente quilombola, religiosamente, ainda está ligado fortemente aos cultos afros, mas tem traços fortes também do catolicismo, esse sincretismo religioso é responsável por uma das mais ricas manifestações culturais do baixo - Guaporé - a Festa do Divino; Como podemos ver, e é fato, há em Rondônia uma diversidade fora do comum, uma diversidade que, creio eu, pode ser resumida em uma unidade - o Beiradeiro.

O povo acreano, é conhecido atualmente por sua identidade fortemente sedimentada. Mas isso não se construiu de uma hora para outra, é fruto de um trabalho político-ideológico de mais de 30 anos (não cabe no momento avaliar seus pontos positivos e negativos), um trabalho que envolveu os CEB’s - estruturado a partir da versão católica para o marxismo: a Teologia da Libertação; um trabalho que envolveu os sindicatos rurais, mas principalmente, a partir de um processo de apoderamento popular, onde fora valorizado a figura dos Povos da Floresta como ponto de unidade dentro da diversidade, o que seria futuramente sintetizado na idéia-conceito do “Florestão” - uma palavra que singularmente descreve o índio, o seringueiro, enfim, o povo acreano. Se bem lembrarmos, Gramsci nos advertia a respeito da importância da identidade como forma de defesa em relação ao dominador. Pois bem, da mesma forma, no Acre, a frase de Bernard Shaw usada na epígrafe é perfeitamente anexa à realidade vivida para a construção de um conceito que expresse a identidade de um povo, seria no caso “criar as circunstâncias que precisamos” para nos auto-afirmarmos. A partir de meados da década de 60, a questão fundiária, foi, sem dúvida, um dos piores problemas enfrentados pelo Estado recém criado do Acre: isso devido a ter se classificado o seringueiro como camponês - aqui percebemos a importância dos conceitos-, o fato é que a partir do início da regularização das terras embasadas no “Estatuto da Terra” - criado pela Lei 4.504, de 30-11-1964: decididamente, uma obra do regime militar que, de forma tirana, assumiu o poder no mesmo ano, e visava de certa forma “salvaguardar” a nação de possíveis distúrbios, haja vista que, em 1959, Cuba havia passado por um processo revolucionário popular, e acontecia de forma semelhante em toda América, um intenso movimento de Reforma Agrária (México, Bolívia), até como forma de acalmar as organizações camponesas que, ao momento, se articulavam a todo vapor - enfim, o Estatuto da Terra, desenvolvido visivelmente sem atentar para as peculiaridades do povo acreano, cometeu o equívoco de classificar o seringueiro como um camponês, como um agricultor, e como determinava o estatuto: o camponês teria direito apenas ao espaço de terra que era composto pela sua casa e sua lavoura, sendo delimitado um espaço de 90 hectares para cada um; o fato é que o seringueiro não se encaixava dentro do conceito de camponês, haja vista que, a manutenção de sua vida não estava no pequeno roçado que mantinha, e sim, nos varadouros de onde se tirava o leite da seringa, que naturalmente extrapolava a quantidade de hectares prescrita no Estatuto da Terra, dado que as seringueiras estão dispersas na mata. Nisso, o conceito de camponês, era altamente prejudicial para o seringueiro, pois sua atividade como agricultor poderia no máximo ser considerada uma atividade complementar, acessória, um proto-campesinato.

A partir dos diversos embates e lutas políticas, o povo acreano percebeu que tanto para enfrentar problemas como anteriormente relatado, ou mesmo, para enfrentar os “paulistas” - pecuaristas que invadiram a região, derrubando matas e expulsando seringueiros de suas colocações na década de 70 -, precisar-se-ia fortificar os traços de identidades do seu povo.

Semelhantemente aos acreanos, nós, rondonienses e rondonianos, por vivermos em um Estado que sempre fora usurpado, desvalorizado, lembrado apenas pelas diversas chacinas que mancham nosso chão de sangue, precisamos criar laços de unidade, fortificar e desenvolver nossos pontos em comum, desenvolver nossa identidade, até como forma de defesa, nisso, a idéia do Beiradeiros vem muito à calhar.

Rondônia não é um novo nordeste por ter um grande número de nordestino compondo sua população. O interior de Rondônia também não pode ser encarado como um novo Paraná, ou um pedaço do Rio Grande do Sul, afinal, foi esta terra que alimentou, sem queixar-se, até os ingratos.

Salientei alguns dos pontos básicos que configuram a idéia de um Projeto que, objetiva-se cultural, e que, ideologicamente tem por meta a promoção das manifestações culturais locais, as manifestações Beiradeiras.

2. COMO PROJETO: ONDE AVANÇAMOS?

Como Projeto, avançamos na questão da valorização da produção própria local. É fruto do Projeto Beiradeiros toda a movimentação que vem acontecendo nos últimos dois anos em torno da produção autoral local. Contudo, ainda não estamos agindo como um Projeto Cultural, tendo em vista que, a produção local, ligada ao Projeto ainda se limita, apenas, a produção das bandas de Rock, com raras exceções. Tudo bem que o Projeto não dispõe de um caixa, mas nem se quer um periódico a respeito do Projeto é produzido, nem um Fanzine, isso poderia ajudar muito na sedimentação na sociedade das idéias do Projeto.

Precisa-se romper a barreira do nicho rock formado no Projeto, para isso necessita-se promover outras manifestações artísticas: teatro, vídeo, grafite, literatura. Por exemplo: o Del possui um acervo incrível de vídeos sobre a cena rock local, esses vídeos, se digitalizados e editados, poderiam ser apresentados durante o festival, e ainda, possuiríamos um bom documento de apresentação de nosso movimento.

O Projeto precisa promover outros estilos de música, outras manifestações. Perceber que é responsável pela promoção da identidade local, e essa identidade não pode correr o risco de se resumir a um estilo.

Um outro ponto positivo é que o Projeto continua mantendo como uma de suas principais preocupações a questão social. O único problema é que as ações não estão tendo continuidade, ao passo que precisamos superar a idéia da interferência direta apenas através das doações; precisamos trabalhar a conscientização - primeiro dos membros do projeto - a respeito das noções de apoderamento, trocar conhecimentos gerando autonomia. Seria até interessante lançarmos a proposta de mantermos um Ponto Cultural - afinal, segundo as propostas do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), está previsto a instalação de mais 4 pontos de Cultura em Porto Velho, semelhantes ao Espaço Preto Goez, porém, acho essa proposta prematura.


3. ONDE RECUAMOS?

Já no primeiro ano de Projeto, pouco conseguimos agir como tal, porém mantivemos a base ideológica norteadora do Projeto protegida. Tentamos articular outras manifestações culturais locais, sendo que, no ano de 2006, ainda que debilmente, sustentamos a proposta de um Projeto Cultural.

Infelizmente, devido as diversas dificuldades encontradas na atual gestão, tudo que pode e deve-se fazer é realizar o Festival, sendo que este ano, o Projeto Cultural Beiradeiros, está limitado a concretização de apenas um de seus objetivos: o Festival. Tudo bem, isso é contornável, só não pode se tornar costume, porque se não, de Projeto Cultural nos transformaremos, como disse anteriormente, em uma mera Promotora de eventos.


4. CRESCENDO COMO PROJETO: COMO CONSEGUIREMOS?

Através de atividades e cursos de capacitação. Atividades que envolvam os membros do coletivo, promovendo a médio prazo, o apoderamento, de cada membro, em relação às atividades e diretrizes do projeto, gerando autonomia suficiente, para que o Projeto não tenha que estar constantemente dependente de uma ou outra figurinha carimbada, garantindo a continuidade do Projeto e sua raiz ideológica.

É nesse ponto que, precisamos valorizar o conceito de cultura como tudo aquilo que pode ser legado. Precisamos legar, compartilhar, trocar conhecimentos, assim nos fortificamos como Projeto, e ainda promovemos uma das metas básicas do mesmo: a valorização das ações culturais locais.

Por exemplo, poderiam ser desenvolvidas diversas oficinas entre os próprios membros do Projeto, temos figuras de conhecimentos incríveis dentro do projeto, que poderiam compartilhar seus conhecimentos: o próprio Rafael: é genial na produção de designers gráficos: poderia ensinar, mesmo que superficialmente, noções básicas de como desenvolver um bom panfleto, a estrutura de um zine, enfim, seu conhecimento poderia ser usado e socializado com o corpo do projeto, é claro que não de forma profissional. O Elton, tem muito conhecimento na área da formulação de documentos oficiais, e isso num Projeto, é simplesmente imprescindível ter conhecimento, afinal, os membros em geral precisam utilizar constantemente: ofícios, memorandos comunicados, circulares, contratos.
No mais, é necessário ter em mente que precisamos nos municiarmos, nos aparelharmos, nos prepararmos.

O Projeto Beiradeiros precisa desenvolver e se aproximar de outros segmentos que promovem cultura em Rondônia - HIP-HOP, MPB, artistas plásticos, poetas, atores e atrizes, repentistas, fanzineiros, skatistas, centros de cultura negra e manifestações religiosas, enfim, agir realmente como um articulador, como um aglutinador, como deve ser um Projeto Cultural. Para poder, futuramente, ter reconhecimento e respaldo para comprar brigas maiores, como por exemplo: encabeçar uma proposta de Lei de Incentivo á Cultura, seja Estadual ou municipal. Principalmente porque sabemos o quanto as Leis federais de incentivo a cultura (Rouanet, Mecenato) não condizem e não são flexíveis em relação às dificuldades de apoio cultural em nosso estado, pois até o incentivo fiscal, é débil como atrativo para um eventual apoio, haja vista que, esse apoio, não é integral as empresas patrocinadoras de projetos.


5. O PROJETO BEIRADEIROS E SEU CORPO ADMINISTRATIVO

As dificuldades do Projeto atual se dão um pouco por falta de zelo com o que o estatuto prescreve. O estatuto é um instrumento de acordos e deliberações que organiza a administração do Projeto. Se não me engano, creio ter visto algum comentário, de um representante do Projeto, dizendo que se deliberava ações na assembléia e não se cumpriam as mesmas, e se cumpriam, mudavam o deliberado ao bel prazer. Justamente para isso, é que existe a Ata, que creio eu, não está sendo produzida durante as reuniões. É preciso que os membros do Projeto tenham em mente que o mesmo é um corpo jurídico, e que infelizmente, nesse corpo jurídico, o verbal tem pouco valor, precisa ser documentado e registrado, para eventualmente cobrar e preservar as decisões do coletivo.

O Vinicius tem mania de dizer que nós somos muito democráticos, eu vejo isso como uma grande qualidade, mas num país que não se sabe ao certo que droga é a “democracia” - pois não acredito nesse engodo de “Estado democrático de Direito” -; na maioria das vezes vivemos um sistema “Oclocrático” (Políbio adverte sobre o estado deturpado da democracia: a Oclocracia), onde ninguém sabe para onde caminhar. Contudo, desde a Tribo do Rock, assim como no Beiradeiros, nossa democracia é mais uma “Ditadura das Idéias”, ou seja, quem não se manifesta, quem não dar opinião, quem não nega, ou afirma, quem não argumenta é obrigado a aceitar as diretrizes de quem o faz. Por isso não devemos nos calar.

Por fim, está faltando um pouco de sensibilidade por parte das figuras de comando, para perceber quando usar seu poder de normatização, exemplo: instituir comissões, análises e planejamentos, levantamentos de dados, conferir atribuições, dividir funções, nomear lideranças - e principalmente cobrar dessas lideranças; Convocar processo eleitoral, obedecer a prazos e prescrições contidas no estatuto.

Creio que, seja através de toda essa dialética que, conseguiremos aprumar nossos caminhos, falhas há, mas em um projeto, há sempre a oportunidade de rever posicionamentos, contudo, nunca se afastando dos princípios básicos contidos no teor do mesmo.

Explicar as diferenças ocorridas a partir do surgimento do Projeto denotando as limitações que estão colaborando para o recrudescimento do Projeto a apenas um festival

A instituição: associação

Uma entidade sem fins lucrativos não significa uma entidade sem movimentação financeira, afinal, não consigo visionar uma instituição conseguir se manter sem movimentação financeira.

Conceituar Projeto.
· As diferenças entre Projeto e fórmula;
· O projeto e seus subprojetos;
· O planejamento anual;
· A base e o parâmetro norteador das ações executivas: o planejamento, o percursso, o tempo, a execução, a análise da execução, um novo planejamento.

Conceituar Cultura.
· Cultura como ferramenta de politização e interferência social.
· O instrumento político;

Conceituar Beiradeiro.
· O instrumento ideológico;

Análise dos objetivos do Projeto - em quê caminhamos?
· Conscientização a respeito do valor da produção local ( tem limitações? Sim, pois nos limitamos a produção apenas de música, e o pior, a apenas um estilo de música)
· A ação social do projeto (tem limitações? Sim: as ações não estão tendo continuidade.

Onde recuamos?
· Corremos o risco de nos transformarmos em apenas uma promotora de eventos.

Como podemos crescer?
· A capacitação dos membros do projeto e o apoderamento das ações.
· Como recuperar o ser do Projeto? Através de atividades e cursos de capacitação.
· Romper a barreira da dependência através do apoderamento.

O corpo administrativo do Projeto e suas funções normativas.
· Registrar as reuniões em ata, assinada por todos os participantes;
· Sensibilidade por parte das figuras de comando para perceber quando usar seu poder de Normatização, exemplo: instituir comissões, análises e planejamentos, levantamentos de dados, conferir atribuições, dividir funções, nomear lideranças e principalmente cobrar dessas lideranças. Convocar processo eleitoral, obedecer a prazos e prescrições contidas no estatuto.

1 comment:

Anonymous said...

Além do ótimo blog de contatos e discursões - Vilhena Rock Zine; Rondônia agora possui mais um parceiro na promoção de debates e interação. Acesse:

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