Thursday, July 16, 2009

#98 – Festival Casarão 10 anos - Programação Oficial

Lançada no dia 13 de julho, dia mundial do rock, a programação do Festival Casarão, em sua 10ª edição, é bem diversa. Destaque para as headliners locais Hey Hey Hey, Di Marco e Coveiros, que abrirão os shows de Pato Fu, Moptop e Ratos de Porão respectivamente. Três bandas que são consideradas expoentes da cultura independente de Rondônia e com bastante “rodagem” pelos principais festivais desta categoria pelo país.

A programação de 2009 é bem mais diversificada que a do ano anterior, fazendo jus a comemoração de 10 anos de luta pelo rock rondoniense. Além dos shows das bandas headliners a expectativa, por parte da galera aqui do Vilhena Rock, fica por conta das apresentações Mini Box Lunar, Made in Marte, Porcas Borboletas, Dimitri Pellz, Lopes e Merda Seca.

Mas, vamos direto ao assunto, segue a Nota oficial de lançamento do festival:

É com muito prazer que o Festival Casarão vai para a sua 10ª edição. Muito trabalho, muita história e muita luta. Tudo isso faz parte do Festival e esse ano chega na sua versão perfeita. Buscando os nomes legais e interessantes para o intercâmbio, seja nas headliners que nunca vieram como Ratos de Porão e Pato Fu, ou no Moptop, que traz uma energia nova para o mainstream. Ou nas bandas independentes de outros nove estados que chegam para um total integração com a cena local. Ainda há a recém criada tradição de sempre termos uma banda do nosso país vizinho, Bolívia.

Assim, é uma emoção enorme lançar a escalação de uma data maravilhosa como essa. É emblemático chegar à 10ª edição para qualquer feito, ainda mais um festival de música independente em Rondônia, onde não temos leis de incentivo e nem apoio privado costumaz. Dessa forma, chegamos no tamanho ideal para prosseguir a nossa caminhada com um pé seguro, caminhando a cada passo sem precipitações.

Agora com vocês a programação da maior festa da música independente de Rondõnia e uma das principais do Norte.

Vinicius Lemos - Produtor Festival Casarão

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Dia 06 de Setembro (Domingo)
Ratos de Porão (SP)
Coveiros
Survive (AC)
Gothika (Bolívia)
Lopes (MT)
Sanctify
Veludo Branco (RR)
Merda Seca
Enmou (Vilhena - RO)
Digitos (RO)

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ENTREVISTA
Vinicius Silva Lemos, advogado, organizador do Festival Casarão desde seu início. São Paulino fervoroso, além de música manja um pouco de futebol (porque se manjasse torceria para outro time). Como produtor musical emplacou o Festival Casarão, que é hoje o festival referência do estado de Rondônia para quem quiser ter uma boa aula introdutória do que é produzido por aqui. Também, por meio do festival e outras atividades trouxe bandas até então desconhecidas do público médio local, mas que logo se tornaram grandes nomes atuais do rock (independente ou não) nacional, como Autoramas, Cachorro Grande, Ludov, Mukeka di Rato, entre outros.

Com a palavra, Vinicius Lemos.

VILHENA ROCK: Na nota oficial de lançamento da programação do Festival Casarão 2009 você diz que "...esse ano chega na sua versão perfeita...". Pelo seu ponto de vista, o que significa essa perfeição e onde ela se apresenta?
Vinicius Lemos: Esse ano até pela crise e pela falta de visão ainda de cultura em Rondônia, tivemos menos apoio, o que nos levou a pensar 100 vezes antes de qualquer coisa. Isso levou a pensar muito na música e no que as bandas que vem fazem pela música. Todas as bandas fazem muito pela música, de sua forma. A independência agora plena do Pato Fu, a rebeldia sempre presente do Ratos não contrasta com ninguém, seja a banda mais nova Digitos, que tá começando a cena ou seja com as tantas outras bandas. Estamos trazendo revelações pontuais como Linha Dura, Mini Box Lunar e Lopes. Um dia somente para a música pesada. Acho que conseguimos agradar todos e ter uma escalação enxuta e com todo mundo tendo algo bom a se dizer.


Você também cita na nota que fazer um festival de música independente, ainda mais em Rondônia, é emblemático por causa da falta de incentivos públicos e até mesmo por parte da iniciativa privada. Segundo informações é previsto que ainda esse ano saia a lei estadual de incentivo a cultura e a abertura de órgãos públicos voltados a cultura para iniciativas de música independente te dá uma esperança ou é algo que você vê com certa desconfiança?
Eu tenho total desconfiança. Eu acredito vendo. A lei estadual é a coisa mais importante que um gestor faça para a cultura de Rondônia, por pior que possa sair a lei, vai ser copiada de algum lugar. O importante é sair, mesmo que seja ruim, porque pior que está num dá. A Secretaria de cultura do estado vê um evento desse e fala que não patrocina porque é evento que cobra ingresso e é privado, gera lucro, como se isso fosse demoníaco ou coisa errado. Mas na hora de oferecer ajuda, oferece panfleto e cartazes. Se me dessem 150 mil reais, eu fazia o evento com preço bem mais baixo, como fazer um evento assim com ajuda de panfleto e cartaz? É brincadeira. Só com a lei teremos patrocínios privados juntamente com os públicos de forma real. Os eventos verdadeiramente culturais florescerão e não serão só do suor de poucos desbravadores como eu e mais alguns. A prefeitura de Porto velho tá com uma visão melhor do que é cultura, muito pelo secretario atual, um idealista como muitos do que mexem com a nossa cultura. Mas isso só acontece agora, depois de 5 anos de mandato, porém, nunca é tarde pra acertar.


Voltando ao festival. Na última edição o festival contou com apoio institucional grande e esse ano não foi possível reeditar esta parceria. Em contrapartida os comentários referentes a programação são mais positivos que os de 2008 e o festival ainda está mais diversificado. No meio dessa controversa "crise mundial" você acha que é o rumo que os festivais tomarão: bom, barato, melhor e mais divertido?
Num sei. É um paradoxo estranho na cena nacional. Melhor é fazer sempre com grana, dá pra fazer o que pensamos e oferecer mais comodidade a quem vem mostrar o seu som ou cobrir. Mas esse ano várias outras coisas ajudaram. O edital de Minas que ajudou a gente a conseguir bandas de minas e ainda tem um artista mineiro para vir nas prévias. O edital fora do eixo nos disponibilizou de graça 3 bandas muito fodas que acho que não daria de contar sem isso. Só aí temos 4 atrações subsidiadas de forma muito boa. O norte tem mandado ver com boas revelações nacional como o Mini Box e Hey Hey Hey. O fato do Ratos vir me "obrigou" a fazer um dia só de bandas pesadas o que deu um destaque para essa cena. O efeito Pitty - Dead Fish - Cachorro Grande - Petrobrás trouxe uma repercussão maior, o festival ficou muito mais conhecido nacionalmente e com isso mais bandas se ofereceram. Cerca de 400 bandas entraram em contato nesse ano. Então acho que se tivesse grana, seria evidentemente melhor, mas esse ano mesmo sem grana estamos colhendo os frutos do sucesso do ano passado na hora de escalar as bandas. Tudo isso influiu. De qualquer forma, tenho muito orgulho por essa escalação e por ser essa no aniversário de uma década.


Aproveitando a deixa, embora muita gente critique iniciativas como o Circuito Fora do Eixo e a ABRAFIN, entre tantas outras é fato que os festivais independentes deram um salto qualitativo muito grande, exatamente pela troca gerada entre as cenas e as ferramentas criadas para fomentar estes intercâmbios. Como você vê essa influência no festival e na movimentação musical rondoniense?
No festival eu vejo muita influência, não por atos diretos da ABRAFIN ou do circuito fora do eixo, mais por atos indiretos. Acho que a atenção nacional se voltou para os festivais, bandas importantes estão dando um salto e vieram dos festivais como Móveis (Coloniais de Acaju), Vanguart, Macaco Bong, Madame. Então, o edital da Petrobrás que mudou a vida do Casarão foi fruto da atenção que a cultura nacional dá aos festivais atuais, coisa inexistente a 5 anos atrás. Nesse aspecto foi bom, até pela inexistência de apoio estadual, buscar fontes nacionais mostra que há cultura aqui, só os governantes da cultura, que nem são da cultura e que acham que dar só pra evangélico é fazer cultura. Isso abriu portas. Há outros elementos que facilitam muito. O fora do eixo está colocando através de um edital próprio 3 bandas no Casarão a custo zero de transporte e cachê. Isso seria muito improvável contar com essas bandas esse ano de declínio de apoios. Na movimentação interna ainda vejo pouca coisa. Acho que o independente é um gueto ainda, muito por culpa de quem trabalha com o independente daqui que não sabe ou nunca trabalhou com os roqueiros comuns. Nossas bandas de Porto Velho nem são conhecidas pelos consumidores comuns. E o pior, o independente local nem liga pra isso. Quando eu trabalhava como diretor de produção do Madeira Festival, Maria Melamanda, NItro, S/A, eram bandas aguardadas por 1 mil, 2 mil pessoas que cantavam juntas as músicas próprias dessas bandas e não somente os covers. Ano passado nenhuma banda chegou nisso, o público praticamente conheceu as bandas e ainda ouço roqueiro antigo falando que as bandas locais num conhece nenhuma. E não há política de reversão disso nem a médio prazo, o que me revolta muito.



Antes de começar o Casarão ano passado o que mais se ouvia nos bastidores é que "não havia bandas rondonienses para circular pelos festivais independentes". Após o festival duas bandas - Di Marco e Hey Hey Hey - surpreenderam os produtores de fora e passaram a circular, além de outras bandas que tem potencial de circular em festivais mais segmentados. Você acha que chegou a hora de Rondônia "exportar" bandas?
Ainda não creio nisso. Apesar de ter havido essa qualidade das duas bandas, acho que as saídas delas são tímidas e ainda não projetadas. O caminho da cena deve ser primeiro fazer as bandas serem conhecidas em Rondônia. Isso já foi fruto de discussão e infelizmente não vi possibilidades de melhora. Você pega uma cena menor como Rio Branco (AC), uma cidade com metade de Porto Velho em habitantes e os Los Porongas eram conhecidos na cidade toda, mesmo antes de ir pra SP, Altas Horas, Multishow e MTV. Desde o roqueiro comum, ao underground, ao independente, ou ao simples ouvinte de uma rádio, sabia que eles eram dali e o que eram. Aqui ninguém sabe nada das bandas locais. As bandas lançam pouco. Tocam pouco, tocam para um publico de 150 pessoas e é um sucesso. O público é na maioria outras bandas. Algo está errado. Banda local poderia tocar toda semana. Mensalmente. Diversificar. Hoje temos um mercado cultural que pode ser usado com a Fundação Iaripuna, dá de fazer um Convida todo mês, bem organizado. Tem que movimentar, divulgar além do nicho. Enquanto num tiver uma agenda local e regional de 3 a 4 shows por mês, nenhuma banda daqui merece ser exportada.



De novo voltando ao festival. Além das apresentações musicais há dentro da programação atividades como seminários, debates, palestras e workshop?
Sim. Isso foi uma preocupação minha de tentar mostrar para a cidade que o festival não era somente uma festa no meio do mato com cerveja de graça e sim um acontecimento cultural. Trazer gente e debater oficialmente é uma forma de você mostrar que ali há uma discussão. É oficializar a integração que faço durante os 3 dias do festival. Foi uma forma de trazer essa demonstração. No mais, trouxemos já várias coisas para o festival. Workshops, Seminários muito bons, ano passado foi top de linha. Esse ano será um pouco mais modesto, mas terá coisas interessantes, tudo sendo ainda negociado, mas pode ter certeza que terá um bom resultado.



No início do ano foi inaugurada a SEDE do Casarão para tentar articular a cena de Porto Velho e servir até como laboratório do próprio festival. Qual sua avaliação sobre esse espaço criado e por que já encerrou suas atividades no espaço?
As atividades eram programadas por 6 meses, onde iniciaram na reforma em dezembro e iriam até maio, data para acontecer o casarão. Depois da ressaca, que haveria se tivesse a sede, seria fechada. Só com um movimento no bar estupendo que talvez continuaríamos. Com a mudança pra setembro, foi difícil tentar renovar e ficar mais tempo, apesar de estarmos melhor estruturados, com um som legal, mais equipamentos e tudo mais.O lance do espaço é aquele, quando num tem, falta espaço, quando tem, esse espaço tem 1 mil defeitos. A sede me mostrou que de 2002 quando tive o território pra cá, porto velho num mudou quase nada, apesar de sair de 300 para 400 mil habitantes, o publico de rock é pequeno e ingrato. A diferença é que em 2002 as bandas disputavam pra tocar no território e na Sede as bandas pediam pra não tocar, querendo se "preservar". Esse foi um mal que eu identifiquei, com a paranóia independente de não tocar cover nenhum, as bandas locais ensaiam pouco, tem um repertorio de 30 minutos, e num seguram um espaço. Assim, acham ruim tocar 4 vezes por mês, ou seja, 1 vez por semana. Mostrou alguns pontos legais, como a parceria com a cena metal, com a Cogumelo Nuclear, para eles bom pq teve uma seletiva lotada, teve bandas novas pesadas surgindo. De tudo se leva um aprendizado, e esse foi bom e mostrou que a cena precisa melhorar muito, mas muito mesmo, e as bandas ainda não estão preparadas para um local só delas.




Com esse boom populacional e financeiro que as usinas estão ocasionando em Porto Velho você acha que as coisas para a música independente, e a cultura em geral,vão melhorar ou só vão inchar?
Tenho esperanças sobre isso, já falei algo sobre isso, mas não tenho certeza de nada. O casarão esse ano vai ser um bom diferencial, com certeza chegaram dentre as cerca de 30 mil que vieram para Porto Velho de maio do ano passado até agora, deve ter uns 300 a 500 que curte rock de maneira geral, o casarão vai ter que tentar achar e trazer eles já que tem bandas pra todos os gostos, de famosas a desconhecidas, do pop do Pato Fu ao pesado do Ratos de POrão. Vamos esperar o termômetro para ver se realmente vai ter mais publico novo, publico que está acostumado a isso fora.



Considerações finais e recado para quem estiver lendo aqui...
Muito obrigado pelo espaço e posso dizer que foi a entrevista que mais falei o que queria, em assuntos delicados e polêmicos. Mas é bom conversar assim e mostrar a verdade sobre muita coisa. Sobre o festival, você que está lendo aqui, vá, aproveite e veja que ha muita coisa ali. Ha principalmente a musica tocando, mas vai desde o rock normal, ao pesado, ao pop, a hip hop do Linha Dura, ao maculelê do MiniBox, ao indie da Hey³ e Di Marco, ao new metal de várias bandas, ao pop boliviano. Não há como alguém ir e falar que é tudo coisa de roqueiro e não há como não gostar de qualquer coisa, nem que seja da vista do nosso lindo Rio Madeira. Venha conhecer esse acontecimento cultural. 10 anos não é fácil para qualquer pessoa, imagine para um evento desses. Vai ser emocionante e quero vocês todos lá presenciando tudo isso. Obrigado.

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Enquanto isso, por essas bandas do Parecis

REUNIÃO - ROCK IN RUA 2009
LOCAL: Auditório da Prefeitura Municipal de Vilhena
DATA: 18 de julho (sábado)
HORA: 20h (oito da noite)

INFO clique aqui.

Quer tocar no Rock in Rua? Cole aí na reunião acima e saiba quais são suas chances...