#65 – Contra quem lutamos
* Por Raphael Amorim
“Algumas coisas você só aprende tomando no cu!!!”
Por favor, peço desculpas pelo baixo calão, mas, era exatamente assim quem um amigo costumava falar quando se referia as coisas que ele fazia pelos outros, e os mesmo ou reclamavam ou não davam o devido valor ao seu feito.
Desde meus dez para onze anos quando ouvi Ramones pela primeira vez, decidi que era aquilo que eu queria, mas nenhum lugar do disco dizia o que seria necessário pra se fazer aquilo, e olha que parecia tão fácil, 4 acordes, 4 instrumentos e 4 amigos, hum, aparentemente fácil, errado, muito mais difícil do que parece.
O fato é que além de montar uma banda você precisa por ela em prática e isso é o que gera as mais loucas e mirabolantes histórias, ainda mais em lugares pequenos, onde as bandas não têm onde tocar e muitas vezes não tem pra quem tocar, nesse embalo é que essas com pensamentos revolucionários, quase um Che (Guevara), decidem que o lance é a luta armada, ou melhor, empunhar as guitarras (baixos, teclados, microfones e outros) e ir a luta por um espaço mais alternativo e democrático.
Então a idéia está semeada, agora só falta arrecadar apoios, selecionar as bandas e montar uma equipe de interessados, que em alguns lugares demoram a aparecer, quando aparecem, passado essa primeira fase o lance agora é organizar um evento e começar a por quente pra se incluir no cenário local, quiçá nacional, o que não é tão difícil hoje, graças à internet.
Ok, tudo planejado, poucos apoios, já que roqueiro é tudo doido e não é consumidor, não compra, não trabalha, alguns coletivos tem conseguido mudar a maneira como o comércio vê a classe, mesmo com poucos apoios faz-se o evento já que a bilheteria vai ajudar a cobrir os custos, mas espere! Não ligue agora! Nenhuma das sete bandas selecionadas e nem as cinco não selecionadas pro evento são filiadas a Ordem dos Músicos Templários do Tibet, então se for cobrada a entrada o evento será embargado, aparelhagem apreendida, músicos repreendidos e espancados em praça pública, pra mostrar que tem que se andar na linha se não o bicho papão vem e CRÉÉÉÉÉÉUU (na velocidade 5).
Certo, não é bem assim, mas a primeira idéia que se tem é a que será essa, ou os porões da ditadura, então não se pode mais contar com a bilheteria, o que resta e aqueles 30 reais, 15 reais que sobrou do pagode de cada um pra ajudar, então aquele som power já não será mais double soundround, os cartazes terão que ser xerocados, e o evento aberto, certo dos males o menor.
Então, aquela banda que parecia ser a que se destacaria, acaba dois dias antes do evento ou no dia se recusa a tocar devido a pouca qualidade do som, mesmo a banda tendo se apresentado somente uma vez, corre-corre, chama-se outra, ai uma outra que não foi convidada, e por mais que você tente dizer, que foi feito um processo rigoroso de seleção, que foi buscada a diversidade e não a quantidade, e que sete bandas já é muito, e não vai ter como tal banda tocar dessa vez, mas que fique tranqüilo, que no próximo ela estará presente, não vai adiantar nada, afinal sua banda vai tocar, e pouco importa se é você que vai ter tirar grana do seu mísero e suado salário pra resgatar aquela promissória que você assinou pro cara do som, ou se é você quem vai ter ir no fórum explicar por que uma menina que você nunca viu na vida, estava caindo de bêbada e que você só viu na hora que o juizado apareceu, o lance é que a sua banda não é melhor que a dele, e o justo seria a dele participar, e não a sua, você relutante tentar achar motivos pra explicar, mas acaba não dando idéia, e essa figura que deveria dizer “Tudo bem !! No próximo a gente bota pra quebrar!! Cês tão precisando de ajuda ou algo assim??”, mas não nunca dizem.
O evento acontece, cheio de imprevistos, faltando mais coisas do que sobrando, muitos falam mal, outros falam bem, mas estavam todos lá pulando, cantando, suando e esperando o outro dia pra dizer que foi uma “merda”, mas você se acostuma, mesmo pensando “eu nunca mais faço isso de novo, esse povo que se foda!”, e dois meses depois você está lá de novo discutindo com o guitarrista de tal banda por eles não vão tocar dessa vez, e a outra banda vai...
... e é como eu sempre digo , eu faço o que faço por que gosto, por que nada paga a galera cantando e pulando enquanto uma banda boa (de verdade) está tocando, mesmo com as adversidades o rock sempre vai ser assim, pelo menos fora dos grandes eixos e é daí que os talentos emergem, não só em bandas, mas em organização, companheirismos e respeito.
Raphael Amorim é guitarrista e vocalista da banda Di Marco e um dos agentes do Interior Alternativo.
*Dedicado aos camaradas dos coletivos de RO, Beradeiros e Vilhena Rock
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A OMB É LEGAL?
COMUNICADO DA OMB
Vilhena, 26 de fevereiro de 2008.
Comunicamos que nesta sexta feira 29/02/2008, a partir das 19:30 horas na sede da O.M.B. localizada na Avenida Capitão Castro, n° 3310 – Centro, será realizada uma reunião com os músicos que tenham interesse em regularizar a sua situação.
Nesta reunião serão apresentadas as propostas da O.M.B. e os esclarecimentos das dúvidas, além da ampliação do parcelamento para que se possa tirar a carteira.
Sem mais,
Atenciosamente.
Ronis Salustiano da Silva
Delegado Regional
OMB 558/RO
Este comunicado foi recebido hoje pela manhã na Prefeitura de Vilhena e o convite é para todos os músicos locais que tiverem interesse em tirar suas dúvidas, questionar seus direitos e debater sobre a OMB em Vilhena.
Não fomos informados sobre a presença do presidente do conselho em Rondônia. De qualquer forma é de essencial importância a participação de todos os músicos que forem contra, a favor e quem tem dúvidas sobre a cobrança da carteira da ordem dos músicos em Vilhena. O debate saudável é a melhor solução.
Coletivo Vilhena Rock
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LITERATURA
LEI DO LIVRO: CADÊ O LEITOR?
* Por Geraldo Maia
Podemos afirmar com uma grande margem de acerto que a indústria editorial no Brasil (e na Bahia) vai muito bem, obrigado. E não é para menos. Afinal, no ano de 2003, foi promulgada a Lei 10.573, a charmosa Lei do Livro, que acabou com os impostos relativos à produção do livro no país a fim de baratear o seu custo e de criar um Fundo de Incentivo à Leitura através de 1% do faturamento das editoras. Claro que a idéia, aparentemente, é ótima, pois o menor preço do livro acarretaria um maior acesso ao mesmo com um conseqüente número bem maior de consumidores.
Tudo muito belo. Mas na prática tal não acontece. Nem o preço do livro baixou, nem o acesso ao livro aumentou, nem as editoras contribuem para o tal Fundo de Incentivo à Leitura. E o que acontece mesmo? Bem, o mercado do livro no Brasil fatura anualmente cerca de três bilhões de dólares, mas só o Ministério da Educação compra algo em torno de 70% do que é vendido, quase tudo livro didático (e para-didático), quase nada de literatura e nada, nada mesmo de poesia. E se for literatura e poesia negra e/ou indígena aí o bicho pega, nadíssimo de nada.
Resultado: milhares de livros são distribuídos nas escolas, mas pouquíssimos alunos sabem ler ou interpretar o que leram. O que poderia mudar essa realidade, a presença da literatura e da poesia em sala de aula, não existe. Nem contadores de histórias, nem cordelistas, rappers, emboladores, fazem parte da cabeça dos professores, do conteúdo das jornadas pedagógicas, do currículo das escolas. Ano após ano nada se discute para por em prática a formação de leitores através mesmo de uma simples leitura em sala de aula como atividade obrigatória em todas as disciplinas.
Apesar de que a cada dia serem descobertas novas experiências de sucesso com o uso da leitura e releitura em sala de aula no tocante à diminuição da repetência e da evasão em matérias como matemática e química onde a leitura é sempre vista como algo obrigatório, difícil, chato e distante.
Por tudo isso, no Brasil, nenhum escritor consegue viver do seu trabalho, quase sempre obrigado a buscar a sobrevivência em outras atividades como tradução, palestras, oficinas, cursos, etc. A Lei do Livro foi aprovada, mas as editoras nada fazem para apoiar bibliotecas e programas de leitura quando nada com a doação de títulos que possibilitem a atualização de acervos e a dinamização do espaço para além de um mero depósito de livros velhos, mas como autêntica usina de apoio à criação de múltiplos saberes, fazeres e leituras do mundo.
E muito menos as editoras trabalham em contrapartida aos benefícios da Lei, no sentido de fazer com que os escritores e poetas possam pelo menos sonhar em viver do que fazem. Nem no de capacitar professores para que possam levar a literatura e a poesia para a sala e aula como prática principal para a formação de novos leitores com capacidade de pensar criticamente o conteúdo dos livros. Claro que isso é perigoso para a manutenção do estabelecido. No mínimo os editores devem ficar com medo de que a literatura e a poesia venham atrapalhar as polpudas vendas dos valiosos e insípidos "didáticos" e de alguns "para-didáticos".
e é burrice ou má fé ainda não se pode afirmar, mas afinal, para que serve a Lei do Livro? Para estimular a compreensão da leitura ou a usura dos editores? Onde anda o Fundo de Incentivo à Leitura, no fundo do poço da ganância ou na inoperância da Lei? O que sei é que 95,5% dos alunos na quinta série do ensino fundamental não consegue compreender um pouco do que leu. No ensino médio, 67% dos alunos não compreende os textos do seu nível se escolaridade. E 57% dos alunos em onze anos de aprendizado não consegue compreender nada do que lê ao sair das escolas. No nível superior não é muito diferente, pouquíssimos entendem o que lêem.
Podemos concluir então que talvez seja oportuno criarmos uma Lei da Leitura (mais uma) já que até agora a do livro beneficiou apenas a ganância e a usura das editoras. Porque produzir livros está provado que sabemos faze-lo e bem. E mal ou bem velhos e novos escritores e poetas quixotescamente garantem a sobrevivência da literatura e da poesia. Mas a formação de leitores ainda não passa pela cabeça da maioria das pessoas. Quase todos acham que basta alfabetizar e comprar livros que todo mundo vai correr para as estantes e começar a leitura. Não percebem que formar leitores é um processo lento com início antes mesmo da fecundação (fase individual), durante o período embrionário (fase conjugal) e até por volta dos dez anos de idade (fase familiar). Em qualquer tempo é responsabilidade preponderante dos pais coadjuvados pelo estado (fase regional) na forma de professores, mestres, agentes de leitura, círculos de leitura, caravanas de leitura, caminhos de leitura a serem percorridos na fase nacional com livros, bibliotecas, escritores, contadores de histórias, arte-educadores, brincantes, facilitadores e mestres da leitura oral, escrita, visual, corporal, cênica e tecnológica em redes de rodas eletrônicas de leitura bandalargadas (fase internacional/cósmica).
Geraldo Maia é poeta na Praça (BA), Escritor nas Ruas e Doutor Honoris Causa no breu das Coisas
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AGENDA
Confirmadas as datas do Festival Fora do Eixo
Será realizado entre os dias
18 e 25 de abril a segunda edição do
Festival Fora do Eixo, que em 2007 levou a sete casas de shows paulistanas dezenove bandas dos mais diversos estados FE do país. Conforme Pablo Capilé, do Cubo Planejamento, detalhes sobre o projeto estão sendo debatidos pelos produtores do circuito, que definirão o formato da produção deste ano. O bacana é que o festival acontecerá uma semana antes da
Virada Cultural em
SP, o que dias intensos de mostra da produção fonográfica independente atual. As bandas interessadas em fazer inscrições devem enviar três mp3’s, mais fotos e release para o e-mail
festivalforadoeixo@gmail.com.
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AGENDA 2Virada Cultural promove parceria com a ABRAFIN
A Virada Cultural, já tradicional em São Paulo, contará com um palco coordenado pela Associação Brasileira de Festivais Independentes (ABRAFIN). O evento será realizado nos dias 26 e 27 de abril, com 24 horas ininterruptas de ações culturais espalhadas pela grande São Paulo.
As atrações foram selecionadas pelos associados e entre os nomes que irão passar no palco da Abrafin estão MQN (GO), Boddah Diciro (TO), Mechanics (GO), Mundo Livre S/A (PE), Fóssil (CE) e Coveiros (RO).