#39 - Rock vilhenense tipo exportação?
Foto: Banda Madeiro
Foto: Banda Madeiro
Em meu hábito matutino de folhear os jornais que chegam aqui no trabalho tive uma agradável surpresa ao abrir o caderno de cultura do jornal Diário da Amazônia ¹ e ver que na capa do mesma estava uma banda de rock (gospel), da cidade de Ji-Paraná, chamada Madeiro. Bom, até aí nada de anormal, diferente, para quem não analisa o contexto: a Madeiro, hoje em “Jipa”, começou justamente aqui em Vilhena. A banda no meio gospel em Rondônia é bem conhecida, inclusive já tocou em outros estados e até fora do país! – Uruguai, 2004. Lembro-me de uma vez que dividimos o palco em uma EXPOVIL², no caso toquei com minha banda – a nada cristã Enmou – depois deles, vi que agitaram bastante no palco. E era uma banda gospel, como pode?
Bom, mas indo para outra linha de raciocínio (sobre o rock gospel daqui escrevo mais abaixo), o rock daqui já gerou e exportou outras bandas que ainda rodam por aí, principalmente na capital do estado.
Na ativa estão três bandas, que começaram aqui e foram para Porto Velho: a politizada Guerrilha S/A, a performática Sucodinois e a eterna promessa – que agora será cumprida – Innocence. É bom deixar claro que não foi a banda toda que se deslocou para a capital, apenas um ou dois integrantes, que continuaram com seus projetos lá, encontraram novos integrantes e continuaram com seus nomes que surgiram por aqui.
A Sucodinois é a mais conhecida, haja vista que por muito tempo a banda proporcionou os melhores shows por aqui. Era de outro mundo, principalmente a cozinha (baixo + bateria) aliada à performance de seu vocalista Janor, atualmente único integrante da formação original da banda. Outro ponto positivo foi justamente que o surgimento da SdS aqui que se começou a pensar as bandas locais como diferentes, com propostas próprias, fugitivas do convencional. A Suco foi essencial para a mudança da cena rock local. As músicas psicodélicas sempre foram uma marca (deles) aqui e com a mudança para Pvh trouxe juntamente com a nova formação uma batida hardcore, que parece amplificar o que já se sentia antes, adrenalina e psicodelia. A ultima vez que vi a banda ao vivo foi no Festival Calango desse ano, com todas as músicas (as que eu conhecia) ainda na ponta da língua. Foi bom, espero ver mais vezes.
A Guerrilha S/A também inovou a cena local, e teve como formação clássica a acidez e objetividade das letras e voz de João Paulo, a competência musical de Ricardo (baixo e guitarra), a ginga de Cássio (bateria) e a musicalidade de Derek (guitarra, voz e baixo) fazendo um hip hop misturado com rock que cativou as pessoas daqui. A Guerrilha fez o que eu considero até hoje a apresentação mais polêmica do rock vilhenense, na EXPOVIL de 2006. Na ocasião João Paulo assustou ao fazer discursos sobre o “submundo” de Vilhena, principalmente abordou o assunto tráfico e consumo de drogas que é alto para um município do tamanho que é aqui. O cidadão comum se assustou, talvez este mesmo cidadão aplaude o filme “Tropa de Elite”, -assistido em uma cópia pirata - esquecendo que o tráfico e o uso de drogas remetem a profundas feridas na sociedade, desde as instituições básicas como família e escola até política econômica e impunidade da elite. Vilhena, Vilhena...
A Innocence acredito que “agora vai” com a nova formação. Ainda em Vilhena fizeram bons shows, mostrando seu hardcore melódico com bons arranjos e letras boas, diferentes da maioria das bandas do estilo que parecem fazer pagode-sertanejo com guitarras distorcidas. A Innocence também teve papel importante na reafirmação do rock autoral em Vilhena, juntamente com bandas como Cronos, Prozack, Neurose, Sub Pop, Enmou, etc. Potencialmente tem tudo para ser a melhor banda do estilo em nosso estado e, porque não, região.
Ao analisar a importância que as bandas tiveram no contexto aqui e também na força que tiveram por esses lados dá para constatar a força do rock local. Mas se invertermos o ponto de vista encontraremos um paradoxo: e o que a cena daqui fez por essas bandas?
Está aí uma pergunta que cabe a eles responder...
O Rock Gospel de Vilhena
Está aí uma pergunta que cabe a eles responder...
O Rock Gospel de Vilhena
Música agitada, mas letras tênues, reflexivas e atitudes positivas. Por que não dizer contestador?
O rock gospel é visto com certas reservas, gente que acha que rock e religião não combinam, gente que como Raul Seixas insiste em dizer que o rock é do “coisa ruim” e se dizem ateus...mas, espera um pouco. Ateísmo, a não existência de um ser superior, no caso Deus, se Ele não existe, então porque o outro deve existir? Ateístas com teorias teológicas, punks forrozeiros, góticos que não gostam – têm medo- de cemitérios, é Vilhena...
Bom, vamos voltar, o rock gospel em Vilhena é bem forte, mas ainda não se justifica como movimento. Não há, e acho que nunca haverá, um movimento de bandas de rock religioso aqui. E pode crer, bem melhor assim. Algumas bandas se integram na movimentação secular, que é o termo que usam para o rock não cristão (gospel), participando de atividades das mesmas até convidando para seus eventos. É algo que não vejo muito por aí. Bandas como Renúncia (com o performático Lucinei e as guitarras de Cleiton) que toca um rock bem potente, misturado com rap, de muita força e peso, fazem das bandas de rock gospel da cidade serem muito respeitadas. Outra banda respeitada no cenário rock local, em geral, é a Strutura 6. Para mim é a banda mais completa da cidade, bons músicos, bom público, só precisam investir mais em suas canções autorais, que ainda dividem espaço com canções de bandas como Rosas de Saron, entre outras. Outras bandas que destaco são a Servus e a Sistema Oposto, a primeira tem um rock mais lento, mas cheio de personalidade e com bom peso e melodia nas guitarras. Quanto à S.O. ela faz mais alinha punk hardcore, com músicas mais rápidas e melódicas, é uma das bandas que podem surpreender no cenário rock local.
Muita gente já citou que bandas de rock gospel talvez não possuam potencialidade para fomentar a cena de rock de uma cidade, no sentido que muitas ficam presas em seus preceitos, infelizmente há muitos fundamentalistas que acham que esquecem da origem da palavra religião entre os homens (ou os populares “crentes chatos”). Numa cidade onde tudo parece ser de cabeça para baixo como é aqui não podia faltar isso: a banda gospel que toca rock pesado, sem deixar de seguir suas ideologias. Têm se demonstrado os melhores parceiros para eventos, sempre que quiser pode contar com eles. É certeza de uma mão amiga, enfim, religar o que o homem (pequeno, imbecil, intolerante) um dia quis desligar: o amor ao próximo.
Site oficial banda Madeiro: www.bandamadeiro.com
NOTAS:
¹Edição de 17/10/2007
Site oficial banda Madeiro: www.bandamadeiro.com
NOTAS:
¹Edição de 17/10/2007
² EXPOVIL – Exposição Agropecuária de Vilhena
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