O Rock in Rua foi realizado neste último fim de semana (25 de novembro), na Praça do Shopping, com a apresentação de sete bandas locais mais uma pequena apresentação do organizador do festival, acompanhado de seu filho, apenas voz e violão. O RiR é o festival de rock mais tradicional da cidade de Vilhena e é realizado desde 1988, um dos festivais mais antigos do estado de Rondônia, ou talvez o mais antigo ainda na ativa. Mas agora: vinte anos?
Nem o pessoal de Vilhena sabia disso, muitos dos que vêem seu primeiro show de rock – no RiR – sequer havia nascido quando tudo começou. O ponto positivo do Festival é que ele já entrou no calendário cultural do município, mesmo a contragosto de alguns “elitistas” da cultura, tem o apoio do poder público, inclusive neste ano inserido nas comemorações do 30º aniversário de emancipação do município de Vilhena.
O que pesa contra é a falta de compromisso de algumas bandas, talvez levadas pelo caráter de celebração de um festival de rock, onde parece que tudo pode. A liberdade é uma das maiores prerrogativas de um evento cultural realizado por jovens, mas infelizmente muita gente confunde “liberdade com libertinagem”. Parece papo de professor...
Algumas bandas, que não estavam escaladas no line up original, fizeram contatos para poder participar do festival mesmo após a escolha das bandas, tentando arranjar uma brecha para tocar. Nada contra, legal ver mais gente tocando, mas acaba de tirar um pouco de crédito do festival, pelo fato das bandas não levarem a sério o festival. Mas para o público quanto mais, melhor. Talvez seja por isso que o festival às margens de completar 20 anos possua apenas relevância local perdendo em importância para festivais que começaram “recentemente”, porém possuem uma estrutura n vezes maior e melhor.
Para ser sincero, a realização do Rock in Rua deste ano estava com uma cara de “só para não passar batido”, para iniciar as bandas convidadas (Sedna e Rádio Ao Vivo) de outras cidades não puderam vir. Para piorar as bandas locais Púbis e Sistema Oposto tiveram problemas de última hora e a banda Cronos, escalada para substituir as bandas de foram que não viriam também não poderia se apresentar. Detalhe: todas as bandas avisaram sobre a sua ausência no festival na semana de sua realização. Fora os detalhes de ter que achar uma bateria no dia do festival, passar o som às cinco e meia da tarde – o festival estava previsto para as 4 – e todas essas coisas que só um festival de rock pode proporcionar. Quando as bandas começaram todas as tensões foram passando, dando lugar a outras, mas no fim correu tudo bem.
Necrose: “Tem algum remédio para ansiedade?”
Necrose: “Tem algum remédio para ansiedade?”
A primeira banda a se apresentar teve inúmeros problemas, ao começar pelo cubo de guitarra estar com problema na distorção e a descoberta da falta que um pedal de efeito faz. E dá-lhe correria para conseguir um pedal para o guitarrista, quando surgiu alguém que cedeu a pedaleira o menino já estava guardando sua guitarra e me disse pra chamar a próxima banda. Nada disso, eles já estavam ali, não dava para deixar eles desistirem.
Apesar do início nervoso temperado por ansiedade a banda se destacou, uma das melhores apresentações do Rock in Rua deste ano, eles mandaram muitas covers de Planet Hemp e Raimundos, mas o que chama a atenção são as músicas próprias como “Cabeça de guidão” e “Porra, vai se foder” todas feitas em praças públicas onde a galera costuma se reunir para falar sobre música e tocar violão.
DNA: “Os últimos serão os primeiros”
DNA: “Os últimos serão os primeiros”
A segunda banda da noite não estava no line up original e foi confirmada poucas horas antes de se apresentar. Quando vieram falar comigo informei que eles seriam a primeira banda, fato não muito bem recebido, mas como haviam entrado por último na escalação teriam que ser encaixados conforme desse. Devido ao atraso de alguns componentes a abertura com eles seria difícil, então foram passados para ser a próxima. Passado algum tempo o pessoal da banda veio perguntar: “tem como a gente tocar mais a noite, PRÁ MAIS GENTE?”. Lá se foi a paciência do organizador: “Ou toca agora ou não toca mais!”. Novamente cara de quem não gostou, mas era hora de botar moral. O mal de organizar algo é esse: dizer não. Nunca compreendem.
A banda começou a tocar para um público de mais ou menos 400 pessoas na “praça do Shopping”. Foi uma apresentação morna, a banda é boa, mas não tem pegada, coisa que se consegue com o tempo. Fora o fato de só tocarem covers. Do momento que tocaram NX Zero para frente eu nem vi mais.
Valmir e Hugo: “Eu sei”
Valmir e Hugo: “Eu sei”
Mesmo com a ausência da banda Púbis, a organizadora inicial do evento, Valmir e Hugo fizeram uma apresentação curta, só voz e violão. Tocaram Legião Urbana “Eu sei” e U2 “With or without you”. Foi um momento “relax”. Valmir aproveitou para comentar sobre os vinte anos do Rock in Rua e que no ano que vem o Festival promete ser o maior feito até hoje. É o que esperamos.
Gênios: “Só duas?”
Gênios: “Só duas?”
Outra banda que entrou aos quarenta e cinco do segunda foi a banda Gênios, que é tipo uma “banda de baile”, toca de tudo, inclusive rock. Ao conversar com eles explicamos que só teria espaço para tocarem duas músicas.
- Mas só duas?
- Só. – a comunicação monossilábica às vezes é mais interessante.
- Só. – a comunicação monossilábica às vezes é mais interessante.
Veio “Que país é esse” (Legião Urbana) e a outra música não lembro porque fui em casa buscar o que comer.
Strutura 6: “Graças ao meu anjo eu não fui pra roça"
Strutura 6: “Graças ao meu anjo eu não fui pra roça"
Após um certo desconforto corriqueiro entre as bandas de Vilhena, o baterista havia sumido, a banda Strutura 6 sobe ao palco. Mais uma vez o rock católico da banda surpreendeu as pessoas ali presentes. O grupo, um dos melhores da cidade, fez uma apresentação impecável e cada vez mais tem dado espaço às suas composições. A banda também deu uma guinada no som, deixou mais encorpado, pesado, sem perder sua característica.
Overdrive: “Relaxa Albert”
Overdrive: “Relaxa Albert”
A Overdrive é formada por integrantes de outras bandas vilhenenses como Prozack e Prysmman, que fazem um rock mais elaborado. Logo os integrantes são mais técnicos e qualquer falha que passa despercebida para os ouvidos menos atentos para eles não passa batido. A apresentação foi muito boa, tocaram músicas como “Freak” do Silverchair que levantou o pessoal, Cachorro Grande e Evanescence deixaram as pessoas interessadas pelas bandas, a banda que atualmente está acertando suas composições só tocou uma música própria “Tudo o que aprendi”, herdada da extinta Prozack. Para as próximas apresentações as músicas serão apresentadas, é o que muitos estão esperando. Ah, se erraram quase ninguém percebeu.
Holy Shadow: “Só duas mesmo?”
Holy Shadow: “Só duas mesmo?”
A banda Overdrive estava se apresentando ainda quando os integrantes da banda Holy Shadow nos procuraram para fazer uma apresentação. Até aí tudo bem, mas ficou a dúvida se tocariam antes ou depois da última banda. Queriam tocar três músicas, mas ficou com duas, para não atrasar muito o que já estava um pouco atrasado. Tocaram duas músicas, inclusive a música que não saiu da minha cabeça “Graças ao meu anjo eu não fui pra roça...”
Enmou: “Tá no rock? É pra se...”
Enmou: “Tá no rock? É pra se...”
Baseado nas últimas duas apresentações da banda (Brothers – Jipa – e Beradeiros) acreditávamos que tocaríamos só pra desafogar as mágoas, hehe. Porém foi a típica apresentação que nós estávamos devendo. A galera de Vilhena com certeza ajudou – será que só funcionamos em casa? – botando o dedo na nossa cara. Era um desafio. Também apontamos o dedo e fizemos o que acho a melhor apresentação do ano da banda – não do festival, da banda – sem pressão, sem nervosismo. Enfim, finalmente a Enmou tocando como Enmou de novo. Piadas e punk rock alternados de forma frenética. Foi massa, melhor parar, mas o baixista é legal...
Enfim, o Rock in Rua deste ano não foi realizado no centro, fato que pode explicar o público menor que o do ano passado, mas nada que tirasse “o brilho do festival”, pelo contrário, o pessoal que acompanha os eventos de rock na cidade estava presente e como sempre fez a sua parte.
Talvez a única coisa realmente negativa quanto ao Festival é o fato de que sempre querem “mostrar seu trabalho” e quando sobem ao palco tocam covers e mais covers, as vezes de forma precária, e deixam para trás uma coisa realmente importante: a produção artística.
Outro lado também complicado é a questão de organização do festival. O Vilhena Rock ficou de ajudar, mas na parte logística e comunicação. No fim das contas sobrou para o coletivo tomar conta do festival quase como um todo. Inclusive a monitoração de palco, contagem de tempo, administração de “pepinos”. A prerrogativa é de há espaço para todos, desde que sejam compromissados e respeitem o que é feito. Apesar de sabermos que imprevistos existem cabe às bandas e organização minimizá-los, como por exemplo as bandas que não puderam se apresentar só avisaram no último momento. Criou-se uma situação interessante: sábado de manhã tudo certo, a tarde bandas desistiram. Domingo de manhã faltava bandas e de noite sobrava, todo mundo querendo tocar.
Bom, ano que vem o Rock in Rua completa 20 anos de realização. Para uma data tão importante o que menos importa é a vinda ou não de uma banda de projeção nacional, pelo menos para mim, é irrelevante. Um festival que consolidou uma cultura entre os jovens, que mantém um movimento cultural a tanto tempo na ativa devia se preocupar mais com sua expansão e produção de bandas locais. Estar mais atento ao que acontece. Também cabe as bandas vilhenenses deixarem de querer convites, porque as oportunidades não correm atrás das pessoas (ou correm?). Senão correm o risco de levar não na cara e ainda achar ruim com quem faz acontecer as coisas,
Fiquem espertos.
Fiquem espertos.
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