Esse tal de rock and roll,
Antes de começar, uma confissão. Estava tão pilhado que não anotei o nome das músicas que as bandas tocaram, mas me lembro bem da performance de cada uma. Quer dizer, boa parte de cada uma, vez que estava entre um minuto e outro pensando como voltar para casa ou consertar meu baixo a tempo de nossa apresentação durante o festival. Se quiser se contextualizar leia a parte II (logo abaixo) e depois venha para a I. Se não quiser tudo bem, deixe as desventuras para depois.
Pois bem, estamos falando aqui do 1° ENCONTRO DE BANDAS DE ROCK DE RONDÔNIA, realizado em Cacoal no último sábado (16 de maio) na frente da Praça Municipal – que diga-se de passagem é uma bela praça – localizada no centro da capital do café do estado rondoniense.
Dando início aos trabalhos sobe a banda NITENDO (Ji-Paraná) com seu punk hardcore juvenil – tipo Blink 182, mas com personalidade – e mostrou que a cena da cidade “coração de Rondônia” gera bons frutos, sendo que alguns estão em fase de amadurecimento como no caso da banda citada acima. Logo depois veio a DDD 69 “o DDD da arte e cultura de RO” como eles mesmos citaram no início do show. Show bom, também com músicas próprias que têm futuro (poderia puxar as músicas na net e falar que lembrei dos nomes na hora, mas não seria honesto de minha parte). Talvez a única coisa a citar de não positivo do show da banda foi a falta de peso na guitarra, coisa fácil de se resolver.
Aí vem a C4, “A” banda do festival. Histeria das meninas e os meninos (amigos ou não) também perto do palco. Saca show de banda famosa com as pessoas na beira do palco? Então, foi assim. Embora alguns camisetas pretas tradicionais passaram um bom tempo sentados (ah, a revolta juvenil). Veio “Umbrella”, música famosa (inclusive em versão das meninas do Inri Cristo), na versão rock. Ficou boa, mas ainda sim deslocada para um propósito de festival. Mas não há como negar, os garotos têm presença de palco, embora um pouco “forçada”, coisa que o tempo de palco acaba moldando melhor.
O festival começou a tomar corpo como um quando subiu a CALIBRE A GOSTO (Ji-Paraná). Confesso que é ainda estranho para mim ver outra pessoa no lugar do saudoso Mayko Victor despejando a poesia urbana e caótica que a CAG exala. Roni encarou essa missão complicada e deu nova personalidade a banda, que ainda não foi devidamente reconhecida em outros rincões do estado, situação essa que não vai demorar muito para ser revertida. Com direito a música de Chico Science & Nação Zumbi, foi um senhor show. E pode ser mais intenso ainda, por incrível que pareça.
A banda local SAM 57 subiu com a responsabilidade de manter o pique do show anterior e não decepcionou. Musicalmente competentes e com peso na medida certa foi um p* show, de dar orgulho a quem esperava que a banda iria representar bem as bandas cacoalenses. Se bem que para um festival desse nível o número de covers tiradas foi elevada, mas nada que tirasse a imponência do show que fizeram. Logo após subiu a banda KILOWATTS (Porto Velho) – nesse meio tempo fui e voltei duas vezes para resolver o problema do meu baixo (gambiarra dá nisso) – mas como o hotel estava perto dava pra ouvir a banda se apresentando. Bom, o que posso dizer é que o nível da banda não foi legal, embora com boas músicas mas sem “punch” – vale lembrar que a banda foi vencedora do Projeto Pixinguinha, com direito a gravação de um disco – espero vê-los em situação melhor, para avaliar melhor. Segundo Alexandre Wilsen, baterista da banda Di Marco (Jipa), o show foi “sem comentários, pode anotar aí”. Anotado Sr. Wilsen.
Então veio a “anfitriã” do festival: THE DJOW. Banda de Fernando Meloni, coordenador do festival – que foi de realização da Fundação Cultural de Cacoal e coletivo Interior Alternativo – com um hit na mente “Reggae do Teres”. Todo mundo já sabia cantar a música e com vontade de tomar tereré (hehe). Perdi boa parte do show no trajeto hotel – festival (feito a pé), mas me lembro de “Sonífera Ilha”, do Titãs, bem executada. É o chefe Meloni mandando bem. Logo após sobe o PROJETO BIOART, o melhor (ou pelo menos) mais original do festival. Imagine uma banda que em todas as suas canções fala sobre o meio ambiente sem parecer piegas ou, como diriam os latifundiários financiadores de Hilux de Rondônia, “ecochatos”. As canções são muito originais, com arranjos idem, e o melhor de tudo, tratando de temas e com termos regionais. Até Vilhena é citada em uma das músicas. Show mesmo, fica aí a dica.
Logo após sobe a banda NOVA ERA, que voltava oficialmente a atividade naquela noite de festival. Deveras competente, redonda o show inteiro, mas peca pelo fato de priorizar as covers. Mandando uma sequência de Raimundos acompanhada de uma porrada do Deftones a banda chamou muito a atenção do público, devido a maestria com que foram tocadas, mas ainda sim fica aquele lance que poderiam priorizar seu trabalho próprio, que por sua vez é bom também (pode dizer, eu pego no pé mesmo).
Encerrando a noite sobe a banda que toco, a ENMOU (Vilhena), tocando aquele velho e conhecido punk rock, misturado com hardcore e filosofia de bar. Por motivos óbvios (e éticos) não tenho como resenhar isso (até porque seria negativo, hehe), então deixo aberto a comentários. Alguém se habilita?
Enfim, o resultado do festival foi positivo, atraindo o público não roqueiro da cidade, apresentando uma boa parcela da cena rock de Cacoal e demonstrando que quando o poder público dá oportunidades para a cultura jovem e urbana as coisas dão certo, graças ao comprometimento dos agentes culturais locais envolvidos na cena, parabéns ao Fernando e seu staff. Como ponto negativo só o fato de muitas bandas, o que tornou cansativo o festival depois de um certo horário. Mas, de qualquer forma, foi válido como experiência.
Fica uma nota para o apresentador do festival: Pacman. Um dos caras mais rock and roll do estado, no sentido puro da palavra. Melhor mestre de cerimônia do ROck. “Ace of Spades” Pacman!!!
# A REUNIÃO QUE NÃO FOI E ACABOU INDO
Marcada para o domingo de manhã a reunião dos coletivos foi um resumo do que se encontra na cena rock estadual. Um total desencontro das partes, mas resolvido na hora do almoço, quando, quase que por acaso, membros do coletivo Interior Alternativo encontraram-se com os integrantes do Vilhena Rock, enfim comprando suas passagens para casa (suadas, diga-se de passagem). No complexo musical Solaris foram abordados temas como MAPEAMENTO CULTURAL, FORMALIZAÇÃO DOS COLETIVOS, FORMAÇÃO DE PÚBLICO e a viabilização do CIRCUITO RONDONIENSE DE MÚSICA INDEPENDENTE (CRMI) . Vão haver mais reuniões como esta (esperamos que dessa vez sem desencontros) até o Festival Casarão nos dias 04, 05 e 06 de setembro (onde será fechado e articulado o CRMI para ser veiculado no mundo inteiro – e viva a internet), na cidade de Porto Velho. Participem!!!
Sei que devo estar decepcionando muita gente, mas só consegui extrair isso da memória. Da próxima vez faço melhor, se me derem a chance, lógico.
Parte II: Desventuras em série.
A parte “legal” da história, para não tomar seu tempo, decidi por em tópicos:
* Numa manobra meio que “João sem braço” conseguimos uma van para ir ao festival. Era muito bom para ser verdade.
* Por incrível que pareça tínhamos uma van e gente para ir junto para acompanhar (quiçá trabalhar no festival com a gente). Estava BOM DEMAIS para ser verdade.
* Tudo pronto para viagem, todo mundo contente e feliz até a correia dentada da van estourar literalmente na altura do km 176 da BR 364 (ou seja, entre o nada e o coisa nenhuma). Falei que era bom demais...
Momento Mastercard:
a) Guinchar a van do acostamento perdido de uma rodovia federal até a cidade mais próxima (Pimenta Bueno): R$ 200,00
b) Táxi de Pimenta Bueno a Cacoal: R$ 60,00
c) Saber que gastando tudo isso acima teríamos dinheiro para pagar um hotel meia estrela, racionar comida, dormir em três num quarto que só tinha duas camas, sem televisão, com banheiro público (ou seja, no corredor), saber que a passagem de volta dependeria de dinheiro emprestado de pessoas talvez desconhecidas, descobrir que seu instrumento estava danificado, fazer gambiarra, subir ao palco tocar mais ou menos bem (cansado, com fome e ainda atravessando as músicas), mas mesmo assim SE DIVERTIR PRÁ C*RALHO: Não tem preço!
Parte III: Nem tudo é negativo.
Meu pai era um homem de fé. Por mais que o mundo tivesse caindo ao olhar para ele sempre tinha a sensação que ele não se abalava, como de fato acontecia. “Deus vai resolver” dizia ele, e resolvia. Por mais estranho que pareça a velha paz Regert, transmitida pelo (saudoso) Sr. Mário, estava ali. De alguma forma.
Vendemos o número exato de camisetas e CD’s demo para comprar duas passagens (que totalizariam quatro, já que dois já tinham comprado as suas por motivos de trabalho) e garantir um almoço legal para a banda. A quinta passagem foi colaboração de uma compreensiva namorada. Ou seja, no fim tudo deu certo.
Vale lembrar das pessoas que conhecemos no festival, como o Rato Slipknot e sua turma e o staff do festival. Apesar de todas as dificuldades valeu cada minuto estar em Cacoal.
Obrigado a todos, inclusive pela paciência de terem chegado até aqui lendo. Até a próxima (e com uma van melhor, hehe).